Especialista
vê sinal de instransigência do novo governo no diálogo com movimentos sociais
As declarações do novo ministro da Justiça e
Cidadania, Alexandre de Moraes, de agir com rigor em manifestações de
movimentos sociais que trangredirem a lei começa a preocupar especialistas no
assunto, que temem a volta de uma marginalização dos protestos.
Para o professor do Departamento
de Ciências Políticas e Econômicas da Universidade Estadual Paulista Marcos
Cordeiro Pires, a colocação de secretarias importantes do governo Dilma sob o
comando do Ministério da Justiça e Cidadania sinaliza um possível retrocesso na
liberdade de expressão.
"Quando se observa que se
coloca a Secretaria de Promoção de Igualdade Racial a Secretaria de Mulheres e
a de Direitos Humanos, que tinham status de ministério, e as submetem ao
Ministério da Justiça e particularmente ao doutor Alexandre de Moraes, que já
teve uma ação bastante autoritária como secretário de Segurança de São Paulo.
Isso indica que na perspectiva do governo Temer o movimento social é um caso de
polícia, como era na década de 1920 do presidente Washington Luiz. É uma má
sinalização porque, antes de apontar para uma reconciliação nacional, está
indicando que eles estão buscando o confronto e que estão chamando os
movimentos sociais para levantar a cabeça para, posteriormente, bater com o pau
na cabeça desses movimentos sociais. Isso para um país fraturado, que tem muita
intolerância, é uma sinalização desastrosa desse governo."
Segundo Pires, a nova equipe do
Temer, de maneira geral, reflete as forças que desde 2013 estão tentado
tirar o PT do poder.
"Lá tem PSDB, PMDB, PTB,
Democratas, PPS, as forças que são mais conservadoras no aspecto político
brasileiro. Todos os ministérios que foram eliminados são ministérios que não
têm nenhuma influência no gasto público, mas eram ministérios importantes na
medida em que sinalizavam o interesse do governo anterior com relação às
políticas públicas."
Segundo o professor, uma questão
importante para a economia é a expectativa, o clima que se cria para estimular
os investimentos e o próprio consumo.
© REUTERS/ REUTERS/Ueslei Marcelino
"Grande parte da crise
econômica que estamos vivendo é fruto de um terrorismo midiático que começou em
março de 2013 justamente quando a taxa de juros real para o especulador
brasileiro caiu ao nível de 0,75% ao ano. O juros em março de 2013 eram de
7,25%, a Selic nominal, descontando 6,5% de inflação, o lucro do especulador no
Brasil era de apenas 0,75%. A partir de então toda a mídia nacional e
estrangeira começou a se coordenar contra o governo Dilma Rousseff e todas
as notícias selecionadas pela grande imprensa e particularmente pela
cadeia Globo de Televisão eram extremamente negativas, mesmo quando tinha um
quê de positivo. Com a entrada do governo golpista, a minha expectativa é que
essa mída, que ajudou a piorar muito a situação, ela consiga contribuir com o
novo governo pintando a realidade de cores mais rosa."
Pires observa, porém, que a atual
crise tem uma característica real, dentre outras coisas o estrangulamento do
setor externo, com a queda dos preços de commodities desde 2014, derrubando
cotações de minério de ferro, petróleo, açúcar, soja, dentre outras. Em 2014,
segundo ele, a balança comercial produziu déficit e só reverteu isso em 2015 e
nos primeiros meses de 2016 por duas questões importantes na economia local:
desvalorização cambial de mais de 30% e o arrocho interno que acabou fazendo
com que a economia local deixasse de importar e liberasse mais produtos para
exportação a despeito da queda no preço das commodities.
"Outra questão é a do gasto
público. Enquanto você teve uma bonança na economia internacional, o Estado
brasileiro assumiu muitas funções que são justas, como mais universidades,
assistência social e melhoria do salário mínimo. O problema é que hoje, com a
queda da arerecadação e com a perda do poder de compra do país no exterior,
aqueles gastos estão pressionando as contas públicas. Imagino, como já
indicaram, que a solução para esse problema é cortar gastos sociais. Ninguém
vai falar para diminuir o tamanho da taxa de juros para evitar esse peso na
dívida pública. Quem tende a pagar a conta é o povo mais pobre e
trabalhador."
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