'Não tem
como elas queimarem sozinhas', diz moradora da região da Chapada dos Veadeiros
Flavia
Davies
O
incêndio que atinge desde o dia 10 o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,
em Goiás, segue avançando pela unidade de conservação ambiental considerada
patrimônio natural da humanidade. O Instituto Chico Mendes de Conservação e
Biodiversidade (ICMBio), que administra o Parque, afirma que o fogo já consumiu
64 mil dos seus 240 mil hectares.
De acordo com o ICMBio, várias equipes têm atuado noite e dia para conter
as chamas. São cerca de 200 brigadistas e bombeiros, além do apoio de
cinco aviões tanque do Instituto, helicópteros do IBAMA e polícias Rodoviária
Federal e Militar do Distrito Federal, entre outras entidades. A Força Aérea
Brasileira (FAB) liberou o avião Hércules para também atuar no combate ao
incêndio. Até agora, 1 milhão de litros de água foram utilizados nos focos de
incêndio.
Flavia
Davies
Aeronaves
utilizadas no combate ao incêndio que devasta a Chapada dos Veadeiros
Além das forças oficiais, a
operação conta ainda com uma rede de voluntários da Chapada dos Veadeiros,
ajudando não só no combate às chamas fora do parque, mas também na captação de
recursos para dar suporte à ação.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a
fotógrafa Flávia Davies, voluntária
nos esforços de combate às chamas, explicou que o fogo que se alastra pela
região atualmente é referente a um de uma série de cinco incêndios, que
autoridades e ambientalistas acreditam ser criminosos, provocados por fazendeiros
insatisfeitos com a recente ampliação da área de proteção da Chapada, ocorrida
em julho.
"Esse, que é o mais forte,
começou agora, no dia 17, e, até agora, não foi controlado. Graças a essa rede
de apoio que a gente criou neste final de semana, com a contribuição de todos
os voluntários daqui da área, é que a gente está conseguindo chamar a atenção e
está conseguindo justamente organizar a logística, os voluntários e a
comunicação", disse ela, que é moradora da cidade de Alto Paraíso de Goiás,
onde a Prefeitura decretou estado de emergência devido ao incidente.
O ministro do Meio Ambiente,
Marcelo Cruz, disse na última quarta-feira, 25, que acionou o Ministério da
Justiça para pedir investigações da Polícia Federal para apurar a origem das
chamas que atingem a Chapada dos Veadeiros.
Para Flávia, há uma série de
indicadores que levam a acreditar na versão defendida por muitos de que o fogo
teria sido provocado por intervenção humana:
"100% das pessoas com quem
eu converso afirmam a mesma coisa. Não chove agora, nessa época. Justamente, é
época de seca, não existe raio, não tem nada que possa provocar essa combustão
natural. E também o que aconteceu foi que foram faixas de terra capinadas… Não
tem como elas queimarem sozinhas. Além disso, colocou fogo na vegetação nos
dois lados da rodovia."
Flavia
Davies
Estrada
fica cercada por chamas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Segundo o Instituto Chico Mendes,
o parque em questão é refúgio de espécies ameaçadas de extinção ou endêmicas
(só existem no local), como o cervo-do-Pantanal, lobo-guará, pato-mergulhão e a
onça-pintada, maior mamífero carnívoro da América do Sul, que estão morrendo em
grande quantidade ou ficando feridos. Além disso, o parque é composto também
por formações vegetais, centenas de nascentes e cursos d'água e rochas com mais
de um bilhão de anos.
Na última segunda-feira, 23, em
meio ao caos provocado pelo fogo, a Câmara dos Vereadores do município de
Alto Paraíso de Goiás decidiu, por 7 votos a 1, acabar com a Secretaria do Meio
Ambiente, fazendo uma fusão da mesma com a da Agricultura, decisão considerada
muito grave por Flávia Davies.
"Pelo novo projeto, ao meio
ambiente restará apenas um cargo dentro da nova secretaria formada. O que
acontece aqui e agora é muito grave. Já temos a certeza de que os incêndios no
Parque Nacional foram criminosos, em retaliação à ampliação mesmo. Cadê a
cidade que tem como meta 17 objetivos de desenvolvimento sustentável?!",
se queixou a fotógrafa.
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