Estilo de
vida responde por 63 mil mortes de câncer por ano no Brasil
Estudo é do
Departamento de Medicina da Universidade de SP
Publicado em 11/04/2019 - 07:37
Por Camila
Maciel – Repórter da Agência Brasileiro São Paulo
Um terço
das mortes causadas por 20 tipos de câncer no Brasil poderia ser evitado com
mudanças no estilo vida. Tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso,
alimentação não saudável e falta de atividade física são fatores de risco
associados a 114 mil casos da doença (27% do total) e 63 mil mortes (34% do
total) por ano no Brasil. Os dados, publicados na revista Cancer
Epidemiology, fazem parte de um estudo realizado por pesquisadores do
Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP) e da Harvard University, nos Estados Unidos, com
apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O fumo
contribui para mortes em todo o planeta. Dez por cento da população brasileira
é de fumantes (Banco
Mundial/ONU)
O
levantamento aponta, por exemplo, que a incidência de câncer de pulmão, de
laringe, de orofaringe, de esôfago, de colón e de reto poderia ser reduzida
pela metade caso esses cinco fatores de risco fossem eliminados. Leandro
Rezende, pesquisador da FMUSP e um dos autores do estudo, destaca que não se
conhece outra forma de prevenir tantos casos.
“O que
nos surpreende é a magnitude de casos e mortes que a gente conseguiria evitar a
partir da redução desses fatores de risco. Esse número deve chamar atenção para
políticas públicas de redução do risco de câncer no Brasil”, disse à Agência Brasil. Estimativa da Organização
Mundial de Saúde (OMS) indica que, em 2025, os casos de câncer cresçam em até
50% no Brasil em decorrência do aumento e do envelhecimento da população.
Atualmente, a doença é a segunda causa de morte no país.
O
levantamento da FMUSP, contudo, aponta que, além das mudanças na estrutura
populacional, o aumento da prevalência desses cinco fatores de risco no estilo
de vida do brasileiro pode representar novos desafios para o controle do câncer
na população. Os pesquisadores traçaram estimativas de redução da doença caso
esses fatores sejam reduzidos.
“Trabalhamos
com algumas metas ou recomendações que são mais plausíveis de serem atingidas
em nível populacional e que estão presentes em alguns documentos e
recomendações por agências internacionais”, explicou Rezende. Foi considerado o
seguinte cenário: o consumo de álcool com uma redução relativa de 10%, uma
diminuição de 1 kg/m2 no índice de massa corporal na média da população, uma
dieta de cálcio de 200 mg a 399 mg por dia e a redução de 30% na prevalência do
consumo de tabaco.Essas alterações, do ponto de vista populacional, poderiam
evitar 19.731 casos de câncer (4,5% dos casos) e 11.480 mortes (6,1%).
Políticas públicas
Rezende
destaca que essas estimativas contribuem para formulação de políticas públicas
na área de saúde pública. Ele cita como exemplo o combate ao tabagismo no
Brasil que conseguiu reduzir para menos da metade a proporção de fumantes em
relação a década de 1990.
“Hoje,
aproximadamente 10% da população brasileira fumam [antes, eram mais de 30%].
Quando o Brasil adotou um pacote de medidas, leis e regulamentação do tabaco no
Brasil, como a tributação do cigarro, a proibição do consumo em local fechado,
a gente teve um impacto bastante positivo na saúde da população”, disse.
Atividades
físicas contribuem para elevar qualidade de vida e reduzir risco de
doenças (Arquivo/Rovena
Rosa/Agência Brasil)
O
pesquisador aponta que o tabagismo é responsável por 67 mil casos de câncer por
ano no Brasil, o equivalente a 15,5% dos casos e 40 mil mortes. “Tem um debate
bastante atual de que se deveria reduzir o imposto dos produtos derivados do
tabaco para diminuir o consumo de cigarro contrabandeado. É importante trazer a
magnitude do estrago que o cigarro faz na saúde da população quando se estimula
o consumo. Hoje, o Brasil é um case de sucesso e a gente,
primeiramente, precisa manter isso”, defendeu.
Um grupo de trabalho foi instituído
em março deste ano pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública para
avaliar “a conveniência e oportunidade” da redução da tributação de cigarros
fabricados no Brasil. Para Rezende, o combate ao tabagismo poderia servir de
exemplo para a elaboração de outras políticas no campo da alimentação. “Rotulagem,
restrições de marketing e aumento de impostos de produtos da indústria de
alimentos para desestimular o consumo são propostas possíveis de serem
implementadas pegando emprestado o case de sucesso do tabaco para tentar
reduzir o excesso de peso e obesidade da população no Brasil”, sugeriu.
Ele
lembra que o Guia Alimentar para a População
Brasileira, do Ministério da Saúde, recomenda que sejam consumidos
principalmente produtos in natura e que se evitem alimentos processados,
especialmente ultra processados.
Metodologia
A
pesquisa partiu do consenso na literatura científica de que cinco fatores de
risco – tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável
e falta de atividade física – estão associados a 20 tipos de câncer. O que o
novo estudo fez foi calcular a fração atribuível populacional (FAP) da doença
relacionado a dados populacionais sobre o índice de massa corporal (IMC)
elevado, consumo de cigarro, álcool, prática de atividade física e informações
sobre a alimentação. De acordo com os pesquisadores, a FAP é uma métrica que
estima a proporção da doença possível de prevenir na população caso os cinco
fatores de risco fossem eliminados, mantendo os demais fatores/causas estáveis.
Os dados
sobre a distribuição dos fatores de risco do estilo de vida foram calculados a
partir da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2013, para estimar consumo de
álcool, índice de massa corporal (IMC), consumo de frutas e hortaliças,
atividade física, tabagismo e fumo passivo entre não fumantes no Brasil. Foi
utilizada também a Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares (POF), realizada
entre 2008 e 2009 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
para obter o consumo alimentar de fibras, cálcio, carne vermelha e processada.
Edição: Kleber Sampaio
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