Estudo mostra
que adolescentes de faixas carentes estão mais obesos
Publicado em 10/07/2019 - 06:57
Por Cristina
Índio do Brasil - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
Adolescentes
residentes no Brasil, de faixas mais pobres da população, estão mais obesos e
ainda sofrem de desnutrição.
É o que
mostra estudo feito por pesquisadores da Escola de Nutrição da Universidade
Federal da Bahia (UFBA) e do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para
Saúde da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia (Cidacs/Fiocruz Bahia).
Esta é a
primeira vez que uma investigação como essa é feita no Brasil, observando
fatores socioeconômicos associados à desnutrição e à obesidade.
Para
fazer o trabalho, os técnicos utilizaram dados das edições de 2009, a primeira,
e da mais recente, de 2015, da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense),
desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O
trabalho investiga doenças crônicas não transmissíveis entre adolescentes
escolares brasileiros.
O estudo
comparou os índices nutricionais de alunos de 13 a 17 anos, separados entre os
que apresentam somente sobrepeso ou baixa estatura e aqueles que apresentam as
duas condições.
Sobrepeso
Na visão
dos pesquisadores, houve aumento de sobrepeso entre os adolescentes de todos os
níveis socioeconômicos e, ao mesmo tempo, também aparece nesses estudantes a
desnutrição, revelada pela baixa estatura.
Segundo o
estudo, os adolescentes de escolas privadas têm maior chance de desenvolver
excesso de peso em relação aos estudantes da escola pública, mas ao longo do
tempo a diferença se reduziu. Entre 2009 e 2015, o índice de adolescentes com
excesso de peso na rede privada, que era 28,7%, permaneceu inalterável, mas a
taxa entre os da rede pública aumentou de 19% para 23,1%.
Dupla carga
No
estudo, os pesquisadores identificaram que a dupla carga de má nutrição, uma
característica de desnutrição e obesidade, simultâneas, atinge menos de 1% dos
estudantes.
Apesar
disso, nem sempre uma melhoria nas condições socioeconômicas vem acompanhada de
maior qualidade nutricional.
“O
indivíduo que tem dupla carga é aquele adolescente que apresenta baixa
estatura, um sinônimo de desnutrição crônica e excesso de peso. A dupla carga
pode se manifestar de três formas. Tanto em nível individual, que é o caso do
nosso estudo, sendo os dois desfechos no mesmo indivíduo. Pode ser também em
nível familiar, por exemplo, uma mãe com excesso de peso e um filho com
desnutrição, ou em nível comunitário, onde em um mesmo local temos taxas altas
tanto de desnutrição quanto de obesidade. No nosso estudo foi bem específico,
com adolescente de baixa estatura e excesso de peso”, disse a pesquisadora da
UFBA, Júlia Uzêda, em entrevista à Agência
Brasil.
Em 2009,
na análise separada, o grupo que apresentou os dois desfechos de saúde,
independentemente de sexo, e diferenciando entre estudantes de escola pública e
privada, a simultaneidade aparece em 29 estudantes do ensino particular (0,2%)
contra 185 do público (0,4%).
Isso
significa que a dupla carga é maior entre estudantes da rede pública. Em 2015,
a taxa de dupla carga entre os estudantes de escola privada atingiu 0,3% e nos
da rede pública permaneceu em 0,4%. As meninas, com 0,4%, ainda são maioria,
enquanto entre os meninos ficou em 0,3%.
Fatores
De acordo
com o pesquisador do Cidacs Natanael Silva, embora o estudo não tenha se
baseado em classes sociais, há variáveis analisadas que indicaram um
crescimento de obesidade, atingindo cada vez mais a população menos favorecida
socioeconomicamente.
Segundo
ele, os alimentos processados podem ser um dos fatores da obesidade, por serem
também de preços mais baixos.
“Os
alimentos processados acabam sendo mais baratos do que qualquer alimento
natural e por terem maior aporte calórico, muitas vezes serem vendidos em
grandes quantidades, mais baratos e atrativos, chamam bastante a atenção do
público mais vulnerável”, disse.
Além
disso, foram selecionadas informações socioeconômicas de adolescentes, como
escolaridade da mãe, raça, sexo e tipo de unidade escolar.
Os filhos
de mulheres que completaram a educação primária revelaram melhores índices de
nutrição, apresentando a metade da taxa de dupla carga do que os estudantes
cujas mães não finalizaram essa etapa.
Júlia
Uzêda informou que há estudos comprovando que a desnutrição em período
intrauterino provoca mecanismos no corpo que aparecem futuramente na vida da
criança, por causa de problemas na absorção de gordura, que resultam na
obesidade.
“O
adolescente é um público vulnerável por todas as mudanças físicas, então,
quando o indivíduo tem dupla carga, ele passa a ter riscos tanto de desnutrição
quanto de obesidade, por isso o nome de dupla carga”, observou.
Políticas Públicas
Os
pesquisadores defenderam que o estudo serve para ajudar na elaboração de
políticas públicas.
Para
Júlia Uzêda, existem fatores que não foram analisados no estudo, como o consumo
alimentar e, principalmente, a qualidade dos alimentos ingeridos, mas as
informações encontradas já podem servir para a adoção de medidas com o foco na
qualidade da nutrição.
“Muitas
vezes as políticas públicas são destinadas isoladamente à obesidade ou à
desnutrição e acabam tratando um e esquecendo outro. A transição nutricional
tem o perfil que é a diminuição da desnutrição, mas não deixa de existir,
enquanto a obesidade e o excesso de peso aumentam. Isso muda o foco das
políticas públicas”, disse a pesquisadora.
Edição: Kleber Sampaio
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