Cidade
mineira vive tensão com risco de rompimento de barragem
Mina da Vale em Barão de Cocais pode se romper a
partir de hoje
Publicado
em 19/05/2019 - 17:29
Por Pedro
Peduzzi - Repórter da Agência Brasil Brasília
O risco iminente de rompimento da
barragem da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), tem deixado cada vez
mais tensos os moradores da região. Segundo a coordenadora nacional do
Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Maria Júlia Andrade, a
maior preocupação é com a possibilidade de o rompimento de um talude gerar uma
movimentação sísmica que comprometa de vez a barragem.
De acordo com a coordenadora, a
forma como as informações estão sendo repassadas pela Vale é inadequada, o que
tem gerado “pânico e terror” na população
local. Maria Júlia diz que há uma preocupação muito grande, nos
últimos dias, após ter vindo à tona a informação de que existe um
talude da cava da mina prestes a desmoronar.
“Este problema já existia, mas
ele só veio à tona agora. E o maior problema é que esta cava está localizada
muito perto, cerca de 300 metros, da barragem que já estava em risco máximo há
mais de três meses", disse a coordenadora.
Na avaliação do MAM, "as
informações [sobre os riscos] são dadas a conta-gotas, e o pânico e o terror
estão generalizados [na região]. As pessoas não sabem se o risco é real, não
sabem se a barragem vai romper ou não. Só sabem que existe um pânico e um medo
de uma bomba relógio em cima de suas cabeças”, disse.
A reportagem da Agência Brasil
não conseguiu contatar a assessoria da Vale até o fechamento
desta matéria.
Preocupação
Dono de um hotel e de uma loja de
utilidades e presentes localizadas na área de risco, o empresário Luís Felipe
Eboli disse que a maioria das pessoas que vivem na região têm dito que o
município de Barão de Cocais “vai acabar”.
“A população já sabe que a cidade
em si não vai existir mais. Uma maré de lama vai envolver a cidade toda. Muitos
já pensam no que fazer depois, sabendo que o turismo deixará de existir, bem
como a atividade minerária. A cidade pode sucumbir. Portanto não há o que
fazer. Todos os comerciantes estão preocupados. Ninguém tem coragem de investir
desde quando teve esse alarme indicando a possibilidade de rompimento da
barragem. A cidade parou”, disse o empresário.
Simulação
Ontem (18), foi feita uma simulação de emergência que
reuniu cerca de 1,6 mil pessoas, número que representa 26,75% das mais de 6 mil
pessoas que eram esperadas. Essa foi a segunda simulação de evacuação
na cidade. O objetivo da atividade foi reforçar as orientações e o treinamento
da população residente na Zona de Segurança Secundária do município. Eles
receberam instruções de como proceder em caso de emergência com a barragem Sul
Superior da mina Gongo Soco.
Segundo o Ministério Público do
Estado de Minas Gerais (MPMG), a barragem pode se romper
entre hoje (19) e 25 de maio. Diante da situação, os procuradores fizeram recomendações
para que a mineradora Vale adotasse “imediatamente” uma série de medidas
para deixar claro à população de Barão de Cocais sobre os riscos de rompimento
da barragem de mineração Sul Superior, da Mina de Gongo Soco.
De acordo com a nota do
MPMG, a Vale deve comunicar "por meio de carros de som, jornais e rádios,
informações claras, completas e verídicas” sobre a condição estrutural da
barragem, além de fornecer “total apoio logístico, psicológico, médico, bem
como insumos, alimentação, medicação, transporte e tudo que for necessário” às
pessoas eventualmente atingidas.
Segundo o Ministério Público, a
mineradora não apresentou o estudo dos impactos relacionados ao eventual rompimento
das estruturas da Mina de Gongo Soco.
Defesa Civil
De acordo com o integrante da
coordenadoria geral de Defesa Civil, tenente Flávio Fagundes, há 7 pontos de
encontros previamente definidos pela Defesa Civil e pela própria empresa, para
onde essas 6 mil pessoas devem se dirigir ao ouvir o sinal de alarme dos carros
de som. Segundo ele, a retirada das pessoas, a partir desses pontos, será feita
por meio dos veículos de transporte fornecidos pela Vale.
Fagundes
acrescenta ter identificado 44 pessoas que terão mais
dificuldades para deixarem os locais, por conta de terem algum tipo de
deficiência ou dificuldade de locomoção. “Treze delas já estão locadas em áreas
seguras”, informou o tenente, que esteve em Cocais e participou do simulado.
Segundo ele, apesar de a rotina
da cidade ter sido alterada, os serviços essenciais continuam
funcionando normalmente. “Tivemos a desativação de alguns postos de saúde e
escolas que foram remanejados para outros estabelecimentos. A vida continua, ainda que de uma forma apreensiva”.
Barreira
A mineradora Vale iniciou na
última quinta-feira (16) a construção de uma contenção de
concreto, que vai funcionar como uma barreira física caso haja
rompimento da barragem. Em nota, a Vale informou que iniciou a terraplenagem
para a construção da barreira, a 6 quilômetros da barragem.
"Além dessa estrutura que,
após concluída, fará a retenção de grande parte do volume de rejeitos da
barragem Sul Superior em caso de rompimento, a Vale está realizando
intervenções de terraplenagem, contenções com telas metálicas e posicionamento
de blocos de granito. Essa obra atuará como barreira física no sentido de
reduzir a velocidade de avanço de uma possível mancha, contendo o espalhamento
do material a uma área mais restrita", diz a mineradora.
Evacuação
A barragem Sul Superior é uma
das mais de 30 estruturas da Vale que
foram interditadas após a tragédia de Brumadinho (MG), ocorrida
em 25 de janeiro. Em diversos casos, a interdição foi acompanhada da evacuação
das zonas de autossalvamento, isto é, aquelas áreas que seriam alagadas em
menos de 30 minutos ou que estão situadas a uma distância de menos de 10
quilômetros. Atualmente, mais de mil pessoas estão fora de suas casas em todo o
estado.
Barão de Cocais é o município com
o maior número de casas evacuadas. A evacuação teve início no dia 8 de
fevereiro quando a barragem Sul Superior atingiu o nível 2 e as famílias foram
levadas para quartos de pousadas e hotéis custeados pela Vale. Em 22 de março,
a barragem Sul Superior se tornou a primeira a atingir o
nível 3, que é considerado o alerta máximo e significa risco
iminente de rompimento. Desde a tragédia de Brumadinho, quatro barragens da Vale em
Minas Gerais alcançaram esse alerta máximo.
Edição: Lílian
Beraldo
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