Quase 71
milhões de pessoas foram forçadas a deixar seus lares em 2018
Segundo o Acnur, o
número é o maior em quase 70 anos
Publicado em 19/06/2019 - 06:30
Por Alex
Rodrigues - Repórter da Agência Brasil Brasília
Em 2018,
quase 71 milhões de pessoas em todo o mundo foram forçadas a deixar seus lares,
abandonando as cidades e até mesmo os países em que viviam para escapar das
consequências de guerras, perseguições ou conflitos violentos. A estimativa é
do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), agência da
ONU. O relatório mostra que, em média, a cada dia do ano passado, 37 mil
pessoas migraram, fugindo da violência e da intolerância.
Produzido
anualmente pelo Acnur, a nova edição do relatório anual Tendências
Globais aponta que, no ano passado, 70,8 milhões de pessoas tiveram
que se deslocar, nacional ou internacionalmente, por força de perseguições,
conflitos ou violência. Em números absolutos, é o maior volume de deslocamentos
forçados em quase 70 anos de existência da agência. São 2,3 milhões de
indivíduos a mais que o registrado em 2017, quando, segundo o Acnur, cerca de
68,5 milhões de pessoas fugiram de diferentes tipos de conflitos. Em 2016, já
havia contabilizado cerca de 65,6 milhões de vítimas dos deslocamentos
forçados. O novo relatório foi divulgado hoje (19), véspera do Dia Mundial do
Refugiado.
Segundo a
Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, de julho de
1951, o refúgio pode ser solicitado por indivíduos que, temendo ser perseguidos
por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões
políticas, deixam os países onde nasceram ou viviam para viver em outra nação e
que receiam regressar.
Em 2018,
o número de refugiados chegou a 25,9 milhões de pessoas em todo o mundo. Foram
500 mil pessoas a mais que o estimado em 2017 e cerca de 3,4 milhões além do
calculado em 2016, quando o Acnur indicou a existência de 22,5 milhões de
refugiados. Além disso, em 2018, metade dos refugiados era criança, muitas
delas inclusive viajando separadas de suas famílias ou desacompanhadas. Só em
Uganda, a agência da ONU afirma ter recebido informações da existência de 2,8
mil crianças refugiadas que, com 5 anos de idade ou menos, foram separadas das
famílias.
Os dados
do ano passado apontam também que mais de dois terços dos 25,9 milhões de
refugiados globais provêm de cinco países: Síria (6,7 milhões), Afeganistão
(2,7 milhões), Sudão do Sul (2,3 milhões), Myanmar (1,1 milhão) e Somália (900
mil). Do total, apenas 16% foram acolhidos em países desenvolvidos, enquanto os
países menos desenvolvidos receberam ao menos um terço dos refugiados. Em
média, quatro em cada cinco refugiados viviam em países vizinhos aos
seus.
Outras
41,3 milhões de pessoas tiveram que se deslocar dentro de seus próprios países.
Além destes dois grupos (refugiados e deslocados internos), o Acnur
contabiliza o total de pessoas que solicitaram refúgio após deixar seus
países de origem, passando a receber proteção internacional enquanto esperam
que seus pedidos sejam analisados e respondidos. Até o final de 2018, havia 3,5
milhões de solicitantes de refúgio espalhados por diversas nações.
O Acnur
afirma que, em 20 anos, o total de deslocados em todo o mundo dobrou e já
corresponde à população de países como Tailândia e Turquia – o equivalente a
cerca de um terço da população total do Brasil. E, ainda assim, é uma
“estimativa conservadora”, já que reflete apenas parcialmente a crise na
Venezuela, onde cerca de 4 milhões de cidadãos já deixaram o país desde 2015,
transformando a situação venezuelana em uma das “maiores crises de deslocamento
forçados no mundo”.
Em breve,
o documento deverá estar disponível, na íntegra, na página do Acnur.
Brasil
Segundo
dados do Ministério da Justiça, o país recebeu, em 2017, 33.866 pedidos de
refúgio, sendo 17.865 de cidadãos venezuelanos e 2.373 de cubanos. Em seguida
vieram os haitianos (2.362), angolanos (2.036), chineses (1.462), senegaleses
(1.221), sírios (823), nigerianos (549) e outras nacionalidades. O total
registrado em 2017 superou em mais de três vezes o de 2016, quando foram
apresentadas 10.308 solicitações de reconhecimento da condição de refugiados.
Entre 2011 e dezembro de 2017, o Brasil recebeu 126.102 pedidos. Os dados de
2018 devem ser divulgados em breve.
Refugiados
venezuelanos - Reuters/Ricardo Moraes/
Direitos Reservados
Ainda em
2017, o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) reconheceu a condição de
refugiado de 587 pessoas – dentre os quais houve 156 pedidos de extensão dos
efeitos da condição de refúgio. Foram atendidas as solicitações de 310 sírios
(o que representou 53% do total); 106 congoleses; 50 palestinos; 24
paquistaneses; 16 egípcios; oito iraquianos e de pessoas de várias outras
nacionalidades.
De acordo
com o Conare, a maioria dos imigrantes que buscaram refúgio no Brasil em 2017 é
do sexo masculino (71%) e pertence às faixas etárias de 30 a 59 anos (44%) ou
de 18 a 29 anos (33%). E a exemplo do relatório do Acnur, também os
últimos dados divulgados pelo Conare apontam para a dimensão da crise
migratória venezuelana. Enquanto, em 2010, apenas quatro venezuelanos
solicitaram refúgio às autoridades brasileiras, em 2013 o total de pedidos
salta para 43. A partir daí, a quantidade de pessoas que tentaram
regularizar a condição de refúgio passou a aumentar exponencialmente: 201 em
2014; 822 em 2015; 3.375 em 2016 e 17.865 em 2017.
Saiba mais
Edição: Narjara Carvalho
Tags: REFUGIADOSACNURMIGRAÇÃO
DÊ SUA OPINIÃO SOBRE A QUALIDADE DO CONTEÚDO QUE VOCÊ ACESSOU.
Para registrar sua opinião, copie
o link ou o título do conteúdo e clique na barra de manifestação.
Você será direcionado para o
"Fale com a Ouvidoria" da EBC e poderá nos ajudar a melhorar nossos
serviços, sugerindo, denunciando, reclamando, solicitando e, também, elogiando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário